quinta-feira, 28 de maio de 2009

Do Futuro



Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto. Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.
Hoje está um dia de nada. Hoje é zero na hora. Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tempo contido e total. Redondo sem início e sem fim. eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncios dentro de mim. A sombra de minha alma é o corpo. O corpo é a sombra de minha alma. Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam.



Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro.

6 comentários:

  1. Timidez

    Basta-me um pequeno gesto,
    feito de longe e de leve,
    para que venhas comigo
    e eu para sempre te leve...

    - mas só esse eu não farei.

    Uma palavra caída
    das montanhas dos instantes
    desmancha todos os mares
    e une as terras mais distantes...

    - palavra que não direi.

    Para que tu me adivinhes,
    entre os ventos taciturnos,
    apago meus pensamentos,
    ponho vestidos noturnos,

    - que amargamente inventei.

    E, enquanto não me descobres,
    os mundos vão navegando
    nos ares certos do tempo,
    até não se sabe quando...
    e um dia me acabarei.

    Cecilia Meireles

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  2. Por onde andavas?
    Senti a falta de seus lindos poemas...
    Ja me acostumei a ti!!!
    É bom quando voltas.
    obrigada

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  3. Adorei seu blog. Estou feliz em ler voce.
    Beijos

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  4. Abismos de silêncios dentro de mim... Lindo isso!
    Alguns autores se apropiam de nossas almas e nem pedem licença.
    Boa noite Andréa

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  5. É essa a minha eminente sensação,Marcio...
    obrigada pela visita carinhosa de sempre!
    beijoo

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  6. Como me encantas; adoro seus comentários...

    Meu sonho

    Parei as águas do meu sonho
    para teu rosto se mirar.
    Mas só a sombra dos meus olhos
    ficou por cima, a procurar...

    Os pássaros da madrugada
    não têm coragem de cantar,
    vendo o meu sonho interminável
    e a esperança do meu olhar.

    Procurei-te em vão pela terra,
    perto do céu, por sobre o mar.
    Se não chegas nem pelo sonho,
    por que insisto em te imaginar ?

    Quando vierem fechar meus olhos,
    talvez não se deixem fechar.
    Talvez pensem que o tempo volta,
    e que vens, se o tempo voltar.

    Cecilia Meireles

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