quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

De retornos


Se, depois de eu morrer...
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.


                                         Alberto Caeiro

Um comentário:

  1. No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
    que o vento não conseguiu levar:
    um estribilho antigo
    um carinho no momento preciso
    o folhear de um livro de poemas
    o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
    Mário Quintana

    Obs."Bem vinda"!!!

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