domingo, 22 de novembro de 2009

De espaços vazios





Tinha ela uma dor no peito constante, perene. Era acometida todas as noites, na hora em que mais precisava descansar. Os comandos do cérebro sobre o corpo, sobretudo o das suas pernas, eram dissonantes aos do coração, carente como criança assustada. Queixava-se a moça o tempo todo de uma ausência por ela própria sentida, uma mistura de oco, buraco no peito, saudade-de-não-sei-o-quê. Ou seria uma presença por ela imaginada? Que na verdade nunca existira? A dúvida rolava cama adentro, coração aos sobressaltos agravados por aquele ponteiro do relógio que nunca fora seu cúmplice. De concreto mesmo, só a imagem da falta. Porque ela mesma, (a falta) , nunca fora vista de fato, de corpo presente em seu quarto, tangível aos olhos, às mãos, silhueta exposta, à sua boca com sede de outra. Como será que então ela consegue soluçar por aquilo que nunca teve? Era tão absoluta a certeza que havia nascido para aquele sentimento! São as coisas do coração, disse certo dia uma amiga e confidente. Mentira. São coisas da cabeça dessa moça, ainda afoita por não conseguir diagnosticar sua doença diária: o amor.
Sim, aquele de espécie urgentíssima, patológica, viral, cego de nascença, aquele que não pondera, não se mede, que jamais pensa. Simplesmente se autocondecora e intitula-se digno e nobre só pelo fato de no mundo existir.
Mentira. Nobre é reconhecer seu papel - e ele, esse amor, é tão soberbo ao ponto de não se deixar diminuir diante do seu real tamanho. Invade a fronteira do real e do improvável vestindo o véu pontilhado do imaginário. E surge assim como um príncipe; rosas vermelhas em punho. Dá para acreditar nele? Ela diz que sim. Efeito da
doença tão mesquinha que deu no coração dessa moça, que deixou os batimentos que moravam no seu peito iguais aos do cursar do dia. No máximo, sentia uma pontada, tal qual um punhal cravado que insistia em lembrá-la a tal falta daquilo que nunca tivera na vida. A dor mesmo se revezava entre a direita e a esquerda da cama. Era a procura, no fundo, daquilo que ela ainda não teve, mas que a noite e o perfume emanado das flores dormindo permitiam-lhe sonhar um dia lhe pertencer.




.

9 comentários:

  1. Andréa linda, acho que essa é a sua postagem coletiva, será que estopu certa? Vou incluir seu nome na lista dos que já postaram, viu?

    Beijo imenso, menina linda e boa sorte!


    Rebeca


    -

    ResponderExcluir
  2. Andréa,
    Gostei bastante de ler seu conto e sua participação, sobre tudo saber que é de BH onde passei rescentemente algumas longas semanas.
    Forte Abraço Alôha,

    Hod.

    ResponderExcluir
  3. Quando se está integrado com o momento, há participação direta. Quando há participação direta, se é feliz sem saber...

    Belas palavras!
    Tácito

    ResponderExcluir
  4. Cada um de nós traz a sua história, conto de amor, pelo qual um dia foi vivido ou vivenciado.
    Não é fácil retomar alguns desses momentos. Mas temos que ter a coragem e falar desse amor.
    Este momento, foi nos proporcionado pelo blog da Rebeca, onde cada um tinha a sua liberdade de escolha e publicar o seu conto.
    Fiquei muito feliz em estar participando com o blog uma interação de amigos.
    Aqui todos falam do amor, comentam e compartilham.
    venha e participe:http://sandrarandrade7.blogspot.com

    com muito carinho seras bem recebida, lá.
    Sand

    ResponderExcluir
  5. ._______querida Andréa




    ".também sou participante
    da "blogagem coletiva - néctar da flor"


    ...


    parabéns pela sua participação:)

    .amei!



    :)







    __________________///









    beijO____ternO

    ResponderExcluir
  6. !!!! Coisa mais linda e doce.....

    AmoooOOOO..

    Bjokas

    Kely C.

    ResponderExcluir
  7. ''Parabéns!!! Seu blog está concorrendo ao The Best GB 2009. São 10 blogs participantes. Destes, os 3 blogs com maior quantidade de votos, serão premiados com o Troféu The Best GB 2009. A votação encontra-se na página principal da Gazeta dos Blogueiros e se encerra em 1 semana. Faça a sua campanha! Boa sorte!

    Gazeta dos Blogueiros ''



    Queridos amigos,



    Já que estamos concorrendo a esse prêmio, gostaríamos muito da sua participação votando na gente. Sempre é um prazer fazer parte de qualquer tipo de interação onde o prêmio é o reconhecimento daquilo que fazemos com amor.



    Pra votar:



    Clica aqui!




    -

    ResponderExcluir
  8. Texto doce =)
    E minha parte preferida foi: "ainda afoita por não conseguir diagnosticar a sua doença diária: o amor"

    Me lembrou um trecho de Caio F. que diz mais ou menos assim: 'e mais uma vez descobrir que amar não tem remédio.'

    Adorei seu blog!

    ResponderExcluir