
Terça feira, 28 de julho de 2009
Pequeno Conto Diluído
Assistia à lenta difusão das folhas de chá na xícara.
Queria que o telefone tocasse, mas ele não tocava nunca. A televisão ligada disfarçava o silêncio.
No quarto, uma criança começava a esquecer o rosto de seu pai.
A água do chá se coloria em contato com as folhas.
Queria esquecer tudo. Lavar com aquela água quente as dores recentes. Mas a água estava quente demais, as dores eram recentes demais, e seus dedos queimavam.
Já se esquecia do jeito que o marido tinha de partir o bolo com as mãos, dos farelos que caíam e das discussões inúteis pelos farelos espalhados. Mas não queria se esquecer do chá repartido nas tardes de sábado – acompanhamento silencioso das brigas pelo controle remoto.
Por que aquele futebol de domingo à tarde na televisão sempre a irritara tanto? Agora, era com saudade que se lembrava dos gritos de gol que ecoavam pela casa.
No fundo da xícara, restava um punhado de folhas inúteis. Folhas que formavam o desenho de não-vês-que-sinto-a-tua-falta? Sentimento que insiste em não se diluir.
Mas o fantasma que se difunde nas frestas da porta e da memória está cada vez mais distante. Sabe que ele não voltará.
Para disfarçar o silêncio, coloca mais açúcar no chá.
Pequeno Conto Diluído
Assistia à lenta difusão das folhas de chá na xícara.
Queria que o telefone tocasse, mas ele não tocava nunca. A televisão ligada disfarçava o silêncio.
No quarto, uma criança começava a esquecer o rosto de seu pai.
A água do chá se coloria em contato com as folhas.
Queria esquecer tudo. Lavar com aquela água quente as dores recentes. Mas a água estava quente demais, as dores eram recentes demais, e seus dedos queimavam.
Já se esquecia do jeito que o marido tinha de partir o bolo com as mãos, dos farelos que caíam e das discussões inúteis pelos farelos espalhados. Mas não queria se esquecer do chá repartido nas tardes de sábado – acompanhamento silencioso das brigas pelo controle remoto.
Por que aquele futebol de domingo à tarde na televisão sempre a irritara tanto? Agora, era com saudade que se lembrava dos gritos de gol que ecoavam pela casa.
No fundo da xícara, restava um punhado de folhas inúteis. Folhas que formavam o desenho de não-vês-que-sinto-a-tua-falta? Sentimento que insiste em não se diluir.
Mas o fantasma que se difunde nas frestas da porta e da memória está cada vez mais distante. Sabe que ele não voltará.
Para disfarçar o silêncio, coloca mais açúcar no chá.
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Um grito de gol se espalha na televisão. Mas o telefone, como o coração, continua mudo.
Não consegue ouvir? Este silêncio está te falando, está te falando...
ResponderExcluirMeu beijo
Muitas vezes quando o telefone nao toca eu tenho a estranha mania de ligar e perguntar por que nao tocou....rs
ResponderExcluirBeijos
"Hoje acordei sem lembrar
ResponderExcluirSe vivi ou se sonhei
Você aqui nesse lugar
Que eu ainda não deixei
Vou ficar?
Quanto tempo vou esperar?
E eu não sei o que vou fazer, não
Nem precisei revelar
Sua foto não tirei
Como tirei pra dançar
Alguém que avistei
Tempo atrás
Esse tempo está lá trás
E eu não tenho mais o que fazer, não "...