quarta-feira, 25 de março de 2009

Para ele que não está

"Ela queria um vestido amarelo.
Disse que era pra combinar.
-Amarelo pra mim não combina com quase nada!
-Combina sim, tem o sol quando lambe a areia, naquele poente em Itapoã, na Pedra do Sal...
Ajeita mil vezes os cabelos tão longos, desfia fitas e flores, as mãos impacientes torcem os dedos
frágeis. - Dez horas!- Deve ser o trânsito.
Pra chegar na hora da festa tem que se sair três horas antes...
-Será que esse verde não ia ficar melhor? Parece que a cor combina mais com meu tom de pele, é a cor dos olhos dele, e além do mais já usei esse amarelo no ano novo. É isso, o verde!
-O quê,já são onze horas? Lá não dá nem sinal , só cai na caixa de mensagens...
-Acho que o branco está melhor, me acalma... é além disso é tão "clean"!
Não fosse esse compromisso ele veria, não teria perdão. A garganta já ressecada pelo veneno da longa espera aflita e as mãos débeis já retorcidas e sem o verniz das unhas... - se der meia noite eu não vou mais, estou avisando!
Nem adianta ele vir com mil desculpas...
-Uma hora e meia da manhã não é hora de moças de família irem à festas, definitivamente...
Nem precisava tanto capricho, a seda dos cabelos... as fitas e as flores, o sapatinho de Cinderela.

A solidão descortina seu manto cinza e impõe sua paleta de cores na noite escura. "

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